HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #6 Descobrindo um segredo
Larissa Trapp

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

Acordei pela manhã, eram seis horas, e eu precisava arrumar-me para a aula. Tomei café da manhã e comi uma maçã. Arrumei a minha mochila e fui para a escola andando. No caminho eu vi umas três pessoas paradas olhando para algo, passei e olhei também. Era uma pequena porta que estava em frente ao parque, uma portinha minúscula, tão bonitinha. Fiquei observando por algum tempo muito curioso, mas não queria chegar atrasado, então fui para a aula.

-Ei você viu a mini portinha?- perguntei para meu amigo Rammebrano

-Portinha?? Aonde?!

-No parque, ela é bonitinha.

-Vi não. Doido, né?

....

 À noite peguei no sono, eu dormi quentinho apesar do inverno. Acordei no meio da noite e fiquei pensando nas portinhas, quem será que fazia? Qual era a intenção?

De manhã novamente andei no parque e vi repórteres falando das portinhas, a cidade estava ficando agitada. Em cidadezinhas pequenas como essa, as notícias se espalham rápido, e como se não bastasse não haviam outras notícias que atraíssem as pessoas, portanto só se falava nisso. Cheguei na escola e lá estava a professora, falando das portinhas:

-Gente vocês viram a mini portinha? Elas são tão lindinhas!! Me apaixonei.

  Novamente de manhã, passei pelo parque e lá estava ela. Perguntava-me frequentemente o que haveria atrás daquela porta? Na verdade, todos na cidade estavam curiosos e também queriam saber. Repórteres já se espalhavam para relatar tudo no jornal. Shermelock, um detetive da cidade, veio com vários instrumentos para investigar as portinhas bem de perto. Entre os instrumentos trouxe um detector de metais. Quando o instrumento foi utilizado começou a apitar, então, todos os repórteres anotaram, muitos fizeram hipóteses, mas a questão continuava, o que haveria atrás da porta?

Outra vez eu não poderia ficar para acompanhar o que aconteceria porque tinha que ir para a escola, e depois disso, tinha compras a fazer. Segui meu caminho para a escola, com o pensamento nas portinhas.

 

 

 

Mais tarde, já no mercado, enquanto pegava as compras, ouvi pessoas falando que não conseguiram abrir as portinhas. Fiquei bastante surpreso e pensativo. Enquanto voltava para casa, percebi que demorei muito no mercado e já estava noite. Notei que não havia ninguém nas ruas, ninguém passeia durante a noite, então resolvi acelerar o passo. Foi nesse momento que vi um sujeito colocar uma outra portinha, era uma nova portinha, que não estava lá antes. Observei que não havia mais ninguém por perto, só eu e ele. Resolvi investigar, esgueirando-me para descobrir quem era. Seria ele que estava produzindo essas obras? Com qual objetivo? Repentinamente derrubei uma sacola de compras. O sujeito correu quando ouviu o barulho. Não corri atrás dele, deixei-o ir, porque além de estar carregando muitas sacolas, não queria assustá-lo. Ele hesitou por um momento, mas depois correu mais ainda. Não consegui ver sua face, embora tivesse muitos postes de luzes, ele estava com uma blusa preta e uma máscara. Penso que ele não queria ser reconhecido. Então percebi, sou o primeiro a ver essa portinha. Cheguei mais perto para ver melhor, quando de repente vejo algo caído no chão do lado da portinha. Era um cartão de papel, deve ter sido o sujeito que deixou cair. O cartão era um convite para um evento de caridade. Será que o criador das mini portinhas estará lá?

....

 No dia seguinte, entrei no local do evento esperando encontrar o sujeito das portinhas. Haviam muitas pessoas, mas eu sabia que uma delas deveria ter colocado as portinhas. Será que ele irá me reconhecer? Claro, eu conhecia todas aquelas pessoas, pois como falei, era uma cidade pequena. Então chego a conclusão que eu conheço o criador, e, provavelmente, ele me conhece. Vou conversando com as pessoas, fazendo um pequeno interrogatório, enquanto falavam sobre a vida, problemas, netos, enfim, fui perguntando sutilmente sobre as portinhas, e o que fizeram ontem...

-Oi - falei - Sr.Mudil, né?

-Sim, vc é o garoto Shepl?

-Por pouco, meu nome é Kaidshon

-Verdade! Você parece muito com meu neto.

-Posso perguntar uma coisa? –Perguntei -Com o que o senhor trabalha?

-Eu era engenheiro, eu amava construir coisas.

-O que o senhor estava fazendo ontem à noite?

-Eu estava em casa com minha esposa, assistindo um filme.

-E seu filho?

-Eu não sei, acho que você deverá perguntar para ele…

E lá fui eu, à tarde, falar com o filho do Sr.Mundial. Toc, Toc, Toc, bati na porta, ele abriu e já fui falando:

-Oi, seu pai me falou de você.

-Oi garoto, o que você está fazendo aqui?

 

-Então, o que você estava fazendo ontem à noite? Por acaso deixou cair isso ontem? - Entreguei o cartãozinho do evento

-Como você sabe??Ahhhh você é o garoto de ontem.

-Você admite então, que é o criador dessas portinhas?

-Olha garoto, pode não contar esse segredo? É muito importante para mim.

Entramos na casa e comecei a fazer perguntas

-Por que está fazendo isso?

-Meu pai, ele está fazendo e eu coloco nos lugares.

-Tá, mas por quê?

-Meu pai foi diagnosticado com uma doença terminal, ele só tem algumas semanas de vida, como ele falava muito da época em que era engenheiro, quis que ele ficasse muito feliz, então falei para ele a ideia que eu tinha. Começamos a fazer pequenas portas simbolizando os muitos sentimentos e lembranças que guardamos na memória. Estão lá, trancados no coração, e nós precisamos só abrir a porta e deixa-los fluírem. Meu pai ficou muito entusiasmado com esse projeto e com o impacto que causou na cidade.

-Porque os detectores de metais ficam apitando?

-Como meu pai quis fazer algo muito especial, derreteu seu metal mais precioso e colocou dentro das portinhas. Foi a forma que ele encontrou de ficar junto, nas memórias.

...

Sai da casa de Philpeu Mudil, filho do Sr. Mudil, me sentindo triste por saber do estado de saúde do pai, mas feliz por ter descoberto a verdade, e por entender o nobre motivo da produção das portinhas. Não iria contar para ninguém o segredo, muito pelo contrário, iria protegê-lo. Agora sei que as portinhas são mais que objetos, elas carregam sentimentos e lembranças.