HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #28 O Soldado Perdido
Leonardo Lavorente

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

1915, dezembro. Inverno. Natal, era natal, 25 de Dezembro. Não estava com a minha família, eu estava longe, bem longe.

Sou russo, 35 anos. Trabalhava como operário em uma fábrica de tecidos. Eu também era alistado no exército por obrigação e já tinha feito diversos treinamentos. Acabei sendo chamado para a guerra mundial. Durante a guerra, estávamos fazendo uma operação, invadindo a Alemanha. Estava tudo bem, até que um ataque surpresa alemão mudou toda a minha vida.

Aquele ataque foi um terror, matando quase todos da minha tropa. O ar era dominado por gases tóxicos, soldados alemães com metralhadoras atiravam em nós sem parar, definitivamente foi um horror. Esse ataque alemão deve ter durado um pouco menos de 3 horas, mas parecia que tinham passado eternidades. O sangue dominava o chão, diversos corpos mortos estirados, perfurados por balas. Eu estava passando mal por conta do forte cheiro de sangue. Acabei inspirando os gases tóxicos, vomitei por uns 30 minutos seguidos.

Consegui sobreviver e fugir do acampamento, mas acabei me perdendo em uma floresta. Tive que me virar sozinho, com as coisas que tinha na mata. Eu tinha um facão e ele me ajudou muito. Fui quebrando árvores e coletando madeira, até que consegui construir uma casa para mim. A casa era bem pequena, um cômodo só, com uma cama feita de folhas, um forno a lenha e só. Apesar da casa ser pequenina, era simpática, decorei-a muito bem com flores e folhas. A porta era baixa, mas bem decorada. Mesmo com um lugar seguro, as lembranças do ataque alemão não me deixavam, acabei ficando traumatizado. Passava mal quase todos os dias, vomitando, ficando com náuseas. Além dessas lembranças, eu não conseguia esquecer os meus familiares, minha esposa, meus dois filhos, meus pais, chorava todos os dias.

Eu ia caçar todos os dias, para ter o que comer. Eu caçava o dia inteiro, e até que tinha muita comida sobrando, por conta disso parei de caçar, só de vez em quando. Estava ficando entediado, então decidi que iria começar a pintar coisas. Fui atrás de flores para fazer tinta, consegui fazer de diversas cores. A primeira coisa que eu pintei foi a minha casa, depois os animais que encontrava, flores, frutas e frutos, até que decidi pintar a porta da minha casa.

A porta era a parte preferida da minha casa, era bem decorada e possuía alguns detalhes que eu amava. Fiquei dias pintando-a, não sei ao certo quanto, mas acho que foi mais de três semanas.

O tempo foi passando, eu pintava o dia inteiro e então se passou um ano. Ao longo deste primeiro ano na floresta eu fiz e aprendi várias coisas, aprendi a caçar, comecei a pintar quadros, levei animais da floresta para a minha casa… fiz isso por dias, meses, até que comecei a ouvir vozes.

Comecei a ouvir vozes. Uma delas era mais alta. Parecia que estava falando russo, entendia algumas palavras e cada vez essa ficava mais alta. Decidi ficar parado na minha casa, até que esta pessoa chegasse. Ela estava se aproximando, até que por enfim chegou.

Observei-o pela janela, era um homem, baixo com trajes de guerra e uma metralhadora na mão. Ele me avistou pela janela e começou a falar, jogou a arma no chão e pediu para entrar na minha casa, deixei-o entrar. Perguntei seu nome, da onde vinha, o que fazia da vida e porque estava na floresta. Então ele respondeu: "meu nome é Dmitry, sou russo, sirvo o exército e com o fim da guerra, o governo russo pediu-me para investigar as florestas próximas à Alemanha." Fiquei surpreso, uma pessoa havia me achado no meio de uma floresta e era russa.

Ele perguntou-me se queria voltar à Rússia junto com ele, respondi que sim, então juntei as minhas coisas, dei tchau para os meus bichinhos de estimação e fui embora. Demorou um mês para que eu chegasse em minha casa.

Quando cheguei, logo abracei meus filhos e minha esposa e comecei a chorar. Mostrei-lhes os quadros que eu pintei, que gostaram. Decidi vendê-los, menos o da portinha, não queria esquecê-la. Foi por não querer esquecê-la, que iniciei um projeto chamado Mini Portas.

Era um projeto em que eu criaria portas pequenas bem decoradas e espalharia por Moscou. A primeira porta foi a da minha casa na floresta, era medieval com decorações de folhas, exatamente como era a minha. Este projeto foi um sucesso, e consegui expandi-lo pelo mundo afora.

Mudei-me para Maringá e lá continuei o projeto por mais alguns anos. Projeto esse que meu filho caçula continuou e segue vivo até hoje.