HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #12 A Porta
Tomás Guimarães

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

Jussara voltava do trabalho depois de uma cansativa hora extra, para compensar os atrasos do mês, que aconteceram devido a diversos motivos, como engarrafamento, fila muito longa no mercado, e dor de barriga. Ela trabalhava numa seguradora, e não gostava do trabalho, sempre teve vontade de ser chefe de cozinha, mas desistiu do sonho depois de perceber que não levava muito jeito para a coisa.

 Andava a pé, para se exercitar um pouco, a rua estava deserta, portanto, ela ficou bastante intrigada ao ouvir algumas vozes estranhamente agudas, vozes essas que Jussara não conseguiu determinar a origem. "Deve ser o cansaço, não tem ninguém na rua" pensou, e continuou a andar, mas as vozes ainda podiam ser ouvidas, embora o que elas diziam não era compreensível.

  Pouco depois Jussara tropeçou, e caiu na rua, machucando o pulso, e quando foi se levantar viu uma pequena figura no chão, tinha um corpo humanoide, porém rechonchudo, e evidentemente seu corpo era coberto por muitos pelos, o rosto lembrava o de um morcego, só que mais achatado, a região da testa não era tão peluda e era bem enrugada, os dedos eram finos e longos, e seus pés achatados. Essa imagem chocou Jussara, de forma que ela não gritou, mas ficou paralisada, ela ouviu a criaturinha dizer, "Venham colegas, achei nossa janta", antes de jogar um pó branco nela, que ele tirou de um saquinho amarrado em sua cintura, esse pó a fez começar a se sentir cansada, até que ela desmaiou.

 Quando acordou, Jussara percebeu que estava amarrada, e estava sendo arrastada pela criatura que tinha visto, e havia mais quatro dessas atrás dela. Ela não sabia, mas essas criaturas são conhecidas como nanicos, e eram conhecidas por serem extremamente grosseiras e mal-educadas, e por terem grande inimizade com os gnomos. Ela percebeu que as criaturas tinham crescido, ou então ela tinha encolhido? Os postes da rua também pareciam maiores, então ela supôs que havia encolhido. Depois de processar todas as informações ela começou a surtar, se debatia, e tentou gritar, mas não conseguiu, pois, alguns trapos cobriam a boca dela, então um nanico disse a ela "cale sua boca sua humanazinha desagradável", o que deixou ela bastante irritada, porém ele se calou, e então notou o pulso doendo por causa da queda. Ela percebeu que pararam na frente de uma pequena porta de estilo rústico, dava para perceber as irregularidades da madeira, e havia plantas próximo a porta, a maçaneta era de metal, e uma placa com o número "165" podia ser vista estava pendurada torta na parede, no lugar da fechadura passava uma corrente com um cadeado, que impedia da porta ser aberta, o nanico que a arrastava soltou-a no chão para abrir o cadeado com uma chave que ele carregava na mão.

 Eles entraram, o interior tinha móveis de madeira tão rústicos quanto a porta, a iluminação era feita por velas, e havia uma coleção de facas penduradas na parede. Ela foi deixada no chão e ouviu a conversa dos nanicos:

 - Como vamos prepará-la?

 - Que tal fazer um ensopado?

 - Ensopado? vamos assá-la.

  - Que tal pastelão de humano?

 - Calem-se! - Disse aquele que parecia se o chefe - vamos fazer um ensopado com os miúdos e com o resto da carne podemos...

 Jussara tentou dar um grito, que foi quase completamente abafado por causa dos trapos, mas foi alto o suficiente para interromper a conversa dos nanicos, ela estava desesperada e se debatia, desejando que nunca tivesse se atrasado, e nunca tivesse tido que fazer hora extra, porque algo desse tipo tinha que acontecer com ela? Que era tão jovem e com tanta vida pela frente. O nanico chefe tirou a maior faca que havia pendurada na parede, e se aproximou de Jussara, avançou a faca contra o pescoço dela, e então Jussara sentiu uma dor excruciante, e depois sentiu a vida ir esvaindo-se do corpo, até que enfim a morte lhe poupou da dor que sentia.