HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #11 Caminhando à luz do luar
Sofia Almeida

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

Christine era uma jovem formidável. Tinha uma beleza deslumbrante e uma inteligência que não se esperaria de qualquer um. Vivia com seus pais em uma cidade pequena onde coisas estranhas aconteciam com frequência. Seus pais não permitiam que ela saísse sozinha com medo de que algo acontecesse com a filha. Quando Christine completou dezesseis anos, eles não tinham mais como proibi-la de ter autonomia, pois já era uma moça, quase adulta. Foi nesse contexto, que Christine decidiu, certa noite, caminhar à luz do luar, em uma floresta que prezava por conhecer. A moça nunca havia ido para a Floresta - que dizem ser assombrada – a qual ficava perto de sua casa, mas decidiu conhecê-la – e com certeza ela não estava em seu juízo perfeito naquele dia, pois já havia escutado várias histórias hediondas sobre o lugar misterioso. Saiu sem avisar os pais, e quando eles deram por falta da filha, ela já estava muito longe, e corria sério perigo. Christine pegou sua lamparina, água e vestiu-se de roupas quentes, sendo cautelosa ao sair.

Já havia passado mais de uma hora, e a jovem continuava a caminhar. Ela estava ficando sem ar, pois estava usando um de seus vestidos mais pesados e apertados. Em certo momento, ela parou. Não tinha mais como continuar. Christine não sabia como voltar para sua casa, e nem onde estava. Se desesperou, e de seus lindos olhos verdes brotavam rios de lágrimas. Por que havia se arriscado tanto, apenas para conhecer um lugar que poderia conhecer depois? Por que não havia esperado chegar o momento para conhecer o lugar tão aclamado?

Christine já estava perdida a mais de cinco horas, quando enxergou com o restante de luz que havia sobrado de sua lamparina uma pequena e misteriosa portinha. Ela era feita de uma madeira maciça, e era possível enxergar um cadeado de ferro que a trancava. Em seu jardim, possuía enormes e horrendas plantas carnívoras que poderiam devorar a qualquer um em minutos. Como já havia contado lhes caros leitores, Christine não estava com juízo naquela noite, e decidiu assim, bater na inquietante porta. No instante seguinte ocorreu um imprevisto, a porta rangeu, e se abriu e de lá nada saiu. Christine conseguiu de uma maneira que não poderei lhes contar, entrar na casa, que ficava em uma árvore extensa. Encontrou uma cama do seu tamanho, e lá adormeceu.

Ao amanhecer, depois de uma boa noite de sono, Christine estava completamente descansada. Ao lado da cama em que se deitou encontrou uma bacia com água, e lavou-se. Não sabia onde estava, e nem como havia parado lá, só tinha a sensação de estar segura. Para ela, tinham se passado poucas horas, mas para seus desesperados pais tinham se passado anos, e eles carregavam consigo a culpa de não terem percebido a filha sair, na madrugada em que se dirigiu para a floresta assombrada. Christine percebeu a porta, antes fechada, agora entreaberta, e decidiu tentar sair da casinha e voltar para seus pais. Quando se aproximou, a porta se abriu, e ela conseguiu passar facilmente. Como narrador, não sei como aquela garota conseguiu fazer aquilo, talvez fosse algum tipo de magia, mas não tenho como adivinhar.

A menina encontrou rastros de seus passos, e seguindo-os, conseguiu aproximar-se de sua casa. Porém, não mais a encontrou, e, antes onde havia árvores, agora existem coisas que Christine não consegue saber o que são. Talvez prédios, já que a pequena cidade em que vivia, no século XIX, hoje pode vir a ser uma grande cidade. A jovem, entrou em um dos prédios que não sabia exatamente o que era, e viu pessoas usando roupas peculiares para ela. Uma mulher perguntou-lhe se estava perdida, e Christine, sem saber o que responder, falou-lhe que sua casa havia sumido. A mulher então perguntou o que havia acontecido, e Christine, exausta, relatou os fatos.

Decidi escrever esse texto, quando minha mãe contou-me a história de uma menina cujo nome era Christine e que usava longos vestidos. Ela a acolheu, mas meses depois a jovem veio a falecer, morrendo de sua própria loucura, ou de coisa parecida. Eu também gostaria de saber o que aconteceu de verdade com Christine, como foi sua ida à floresta, mas isso nunca iremos descobrir.