HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #32 Portas no Caminho
Marina Moreno

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

Era seu. Pertencia-lhe. Seu lugar. O qual cuidava com todo o carinho. O qual vivenciava com toda a presença e confiança. Aquele que se movia pela magia e natureza, ou talvez pela magia da natureza, também. Aquele local lhe era especial porque vivera ali, crescera ali, e desde então, tudo aquilo tornou-se um aconchego, o maior e mais aconchegante deles. Sentia-se bem por ali. Ah, era seu.

   A consciência de que um dia (muito próximo, talvez) teria que se afastar de tudo aquilo lhe alcançou, e, sutil como o quebrar das ondas, afastou-a, deixando o aperto no coração passar através de si e ir embora. Ao mesmo tempo, sabia o quão era privativo estar ali, e somente ali. Sabia que um destino lhe aguardava.

   Apesar de toda a diversidade, oportunidades e abundância de seu lar, ainda era seu, sua segurança. O conforto era indescritível, cobria-lhe a alma como uma manta cheia de pelos abraçando-o, ao mesmo tempo que lhe preenchia como um recipiente, chegando cada vez mais perto de se preencher totalmente, prestes a transbordar. A ambição de conquistar e explorar corria logo ao lado, a ponto de quase ultrapassar.

   Tudo estava ali, na sua frente, esperando-o. E por que ele não ia? Sabia-se que era o certo. Ou o mais aconselhado.

   Assim como todos, sua hora iria chegar. “Portas vão se abrir…” , “ há uma porta de distância…”. Não era só isso. Ele sabia bem. Aquelas madeiras se enrolando umas nas outras, se contorcendo e emoldurando-a… As encantadoras trepadeiras abraçando-a de forma gentil,...sufocante...Um aspecto antigo lhe rodeava. Sentia-o na pele. O que se esperar daquela porta?

   Bom, provavelmente atrás dela devia haver quase que outro mundo. Perigoso? Provavelmente. “Então por que eu tenho que ir”?. Ótima pergunta, só se saberá se você for, então…

   Mesmo assim, meu caro amigo, não foi fácil assim. Suas sensações estavam à flor da pele. Podia sentir a respiração daquela porta e do que lhe aguardava, como se realmente estivesse vivo, feito e destinado a ele, chamando-o…”AAAAAAAAAA” era o que ouviríamos se pudéssemos ouvir seu interno. Bastava se aproximar dela, mas era tão difícil… em um instante sua cabeça girava e se perdia em uma nuvem de pensamentos. Enfim, tomou coragem.

   Pé ante pé, foi se aproximando. Finalmente suas mãos tocaram as torções da madeira, podia sentir o gelado das folhas que a enrolavam. Abriu-a. Fechou os olhos para não ver o que estava lhe esperando. Passou pela porta, e viu um breu. Não tinha nada, a princípio. O desespero bateu. A porta se fechou, não podia ver nada, não entendia nada. Não sabia para onde ir, o que fazer. Seu coração se acelerava, palpitava freneticamente, estava às cegas. Mais tarde, pôde-se ver uma luz, a neblina parecia mais fraca, sutil, permitindo uma visão melhor. Ainda não se sabia muito bem o que estava à sua frente. Talvez seu coração soubesse o que tinha ali, provavelmente não ao certo, mas sentia, lá no fundo, que algo grande lhe aguardava. Junto ao medo, sentia ansiedade, um sentimento bom, uma ambição em procurar o que queria, descobrir o seu mundo, e sabia que ali era o lugar certo.