HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #24 Casa 5
Günther Pedroso

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

Ray Charles, um dos meus ídolos. Meu nome vem de uma das músicas dele, Jack. É, talvez meus pais deveriam ter prestado mais atenção na aula de inglês, porque aqui eu estou, 42 anos depois, na mesma posição do “querido” protagonista. Eu sei que eu mereço e eu sabia que isso ia acontecer, as noites que eu passava acompanhado de meus “amigos” já é mais do que o suficiente para merecer isso, mas ainda me mata ver a porta que antes me trazia tanta alegria simbolizar o fim de algo que um dia foi tão bom. Eu lembro quando chegamos na casa, lembro que entramos sorrindo de orelha a orelha, tínhamos acabado de nos casar, e aquela porta sempre foi um marco na nossa casa, e agora ela virou um monumento do fim de toda alegria, do fim de toda a vida, enquanto eu tento alongar cada momento dentro dessa casa, por mais triste que esse momento seja.

           Meu marido, agora ex-marido, entra na sala e me pergunta “precisa de ajuda”? E eu me viro, me esforçando para não chorar digo que estou bem ou algo do tipo, não estava prestando atenção no que eu disse, estava pensando em todos os jeitos que eu poderia alongar o meu tempo ali até que ele disse “ Então tchau né? Hit The Road Jack, como Ray Charles diria”, eu olho para ele em silêncio e eu sinto uma lágrima caindo do meu olho enquanto eu me viro em direção a porta. 1, 2, 3, 4, 5 passos, 5 passos mais dolorosos do que qualquer uma das minhas cicatrizes, até que eu estendo minha mão em direção à porta, olho para trás e vejo ele me olhando encostado na porta da cozinha, giro a maçaneta e dou um passo para frente, e um pedaço da minha alma ficou ali, na porta rosa da casa azul, meu lar, minha vida, casa 5.