HISTÓRIAS DAS MINIPORTAS

Conto #15 Os Portais
Ana Clara Salgado

Colégio Integral de Curitiba - Paraná (2023)

*Este conto foi criado em um projeto realizado no Colégio Integral sob a coordenação da profa. Vanessa, inspirado nas MiniPortas de Maringá, e gentilmente cedido para publicação neste site.

Já faz alguns anos desde que o último humano que veio para nossas terras foi embora. Eles quase nunca acham os portais, e quando acham dificilmente é esse. Eu olho para a porta, com esperança de ver mexer a maçaneta. Não aconteceu. Estou com tanto tédio! Nunca gostei muito dos humanos, mas eles geralmente são divertidos. Não vou esquecer Merlin, Morgana ou Lucy tão cedo. Tecnicamente os dois primeiros eram mágicos, talvez tirassem seus poderes de algum dos 137 mundos, mas não importa. Ainda eram humanos.

Olho para a porta novamente. Ainda nada. Lembro das primeiras lições que todo gênio da lâmpada, fada madrinha, duende, elfo e guardião aprende. Qual o seu portal, como protegê-lo, como passar para o mundo dos humanos sem perder sua forma, e de onde seu portal ou objeto mágico de escolha vem. Todos usam a mesma madeira. O Argo, O Holandês Voador, O Guarda-Roupa, as varinhas mágicas e vassouras voadoras, O Pinóquio, A Arca, A caixa de pandora, essa porta estúpida que eu tenho que guardar… Tudo feito da mesma madeira. Encantado com diferentes propriedades mágicas dependendo da função, mas o material é o mesmo. O núcleo é o mesmo. É o que conecta os mundos.

 Deuses, bruxas, fadas, elfos, anões, sereias , dragões, ogros, faunos, ninfas, duendes, vampiros. Todos existem. Todos têm seu domínio. Todos vivem em harmonia. Nós conhecemos uns aos outros, e podemos ir a outros mundos a qualquer momento. Cada um tem sua função, e a maioria gosta de ou ajudar ou perturbar os humanos. Os vampiros e alguns tipos de sereia gostam de beber o sangue ou comer humanos, mas agora tem opções melhores e sem risco de ser atacado com uma estaca de madeira ou acidentalmente pescada. As portas são o que conecta os mundos. É um sistema frágil, mas que sempre funcionou.

Enquanto estou pensando nessas coisas, vejo a maçaneta girar! Um humano! Vai ser tão divertido!

Corro até a porta e olho para ele. Um homem entre 15 e 168 anos, com certeza. Falo, em alto e bom som:

-Finalmente! Esse é o guerreiro de quem as profecias falavam! Meu Senhor, você tem que derrotar o dragão que aterroriza nosso reino. Pegue essa armadura e essa espada, nobre guerreiro, e derrote a besta das cavernas.

Ele pareceu orgulhoso, colocou a armadura, pegou a espada e foi para as cavernas. Enquanto eu via ele ganhando distância, uma das guardas do reino parou perto de mim:

- Sabe, eu sei que você só fez isso duas vezes…

-Cinco vezes, três foram mais espertos.

-Isso é pior! Exatamente cinco vezes mais do que deveria!

-Ah, mas por que?

-Irrita o dragão, e nosso trabalho não é machucar humanos. Aquele ali não vai durar cinco minutos.

Sorri. Humanos são tão divertidos!